Quando hoje falamos em "cinema da retomada", uma pergunta me vem à cabeça: que retomada? Em primeiro lugar, está claro que há um reaquecimento da produção, que, nos anos Collor, ficou reduzida ao curta-metragem e a alguns poucos longas, realizados com extrema dificuldade. Mas será que é apenas esse o sentido da palavra retomada, ou também significa que o cinema brasileiro volta a estar em consonância com as discussões estéticas, sociais e existenciais de nossa época e a dialogar com a história do nosso cinema? A questão proposta é descobrir se os filmes produzidos no período pós-Collor pensam e representam o Brasil com o vigor dos filmes de Humberto Mauro, Mário Peixoto, Lima Barreto, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Paulo César Saraceni, Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias, Andrea Tonacci, Carlos Reichenbach e tantos outros.

Podemos considerar que a retomada da produção cinematográfica se dá a partir da ótica dos diretores de marketing das empresas privadas, que se utilizam do dinheiro público para viabilizar em sua maioria projetos comerciais? E como ficam os projetos de realizadores, novos ou experientes, que, desprovidos de contatos nas empresas, têm grandes dificuldades em concluir seus filmes? Qual a importância de realizar filmes que não falam ao grande público nem a nenhum outro segmento social, e dirigem-se apenas aos departamentos comerciais das empresas? Os jovens cineastas pretendem elaborar uma produção mais contundente? Os mais experientes desejam repensar os modos de fazer cinema no Brasil e propor novas experiências formais?

O seminário O Cinema como Expressão Cultural foi concebido e produzido para estimular, discutir e esclarecer estas e outras questões que tanto afligem realizadores, pensadores e espectadores do cinema brasileiro. Para enriquecer as discussões e dar uma visão panorâmica das principais questões que foram tratadas no seminário, editamos um livrete e produzimos um videodocumentário, que contém entrevistas com realizadores, produtores e críticos brasileiros e que foi exibido antes de cada debate.

Eugênio Puppo
Organizador