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DEMÔNIOS E MARAVILHAS

Não-ficção, 1976-96, 35 mm, cor, 49 min, média-metragem

 
 

Documentário que aborda momentos importantes da vida de José Mojica Marins, tais como sua prisão por um delito que não cometeu, o grave enfarte sofrido, o lançamento com sucesso de alguns dos seus filmes e a festa de 15 anos de um caixão utilizado nas fitas do personagem Zé do Caixão.

Na filmografia de José Mojica Marins, esta obra chama a atenção por ser o único documentário feito pelo cineasta. Abordando a vida do próprio realizador, Demônios e maravilhas pertence ao filão dos “documentários em primeira pessoa”, atualmente muito em voga. Mas em vez de longos depoimentos do diretor ou de seus familiares e amigos, o filme utiliza-se bastante de reencenações de acontecimentos da vida do artista, nas quais Mojica, dona Carmen Marins, Nilcemar Leyart, Satã e outros dramatizam fatos vividos por eles próprios num passado mais ou menos recente. Tudo isso é embalado pela locução em primeira pessoa de Mojica e de Nilcemar, além de músicas tonitruantes como Carmina Burana.

Em Demônios e maravilhas, o que dá lógica à vida de Mojica é o cinema. Tudo se estrutura a partir dele e das numerosas dificuldades da produção de filmes no Brasil, como superar obstáculos aparentemente intransponíveis – ou seja, algo digno do gênero fantástico. Nesse sentido, a seqüência em torno do curso de cinema ministrado por Mojica, na qual se utiliza a música da série televisiva Missão impossível, sobreposta a imagens do mestre e de seus discípulos no set de filmagem, na sala de montagem ou no estúdio de som, é brilhante pelo seu senso de oportunidade.

Há também o registro cinematográfico da festa de 15 anos do esquife do personagem Zé do Caixão, à qual, entre outros, comparecem os críticos de cinema Almeida Salles e Jairo Ferreira, além do físico Mário Schenberg. É o caso também da chegada de Mojica, devidamente paramentado com as vestes da sua principal criação, a uma boate na qual ele encontra Pelé. Essas personalidades tão díspares representam bem a maneira como Zé do Caixão se constitui. Muito mais do que em um personagem, ele é um dos poucos mitos que, desde os anos 1960, dialoga com os vários estratos da sociedade brasileira.

Arthur Autran