Portal Brasileiro de Cinema  SIMPLESMENTE MULHER (A IMIGRANTE)

SIMPLESMENTE MULHER (A IMIGRANTE)

Ficção, 1979, 35 mm, cor, aprox. 9 min, curta-metragem

 
 

A trajetória de uma mulher especial e misteriosa é contada desde sua chegada ao Brasil, ainda menina, até as dificuldades e incertezas que encontra na vida adulta, a descoberta do amor e o nascimento de sua filha. Trata-se de uma homenagem de Mojica a Nilcemar Leyart, com quem o cineasta foi casado.

Neste curta-metragem, Mojica faz uma bela homenagem a Nilcemar Leyart, sua mulher na época em que o filme foi realizado, e colaboradora em vários de seus filmes (em particular na função de montadora). Romanceando a história de vida dela, caracteriza a personagem como uma mulher especial, envolta em mistério, que lutou para se destacar no mundo e encontrar outro ser tão especial quanto ela.

O fio da história é conduzido por um cantador, o qual interpreta uma canção composta por Mojica e Oscar Marcil. Ainda menina, a protagonista chega ao Brasil por mar numa viagem de navio – com “muita esperança no olhar e sua bonequinha na mão”. Já adulta, vai a São Paulo e, fascinada com o que encontra, busca estabelecer-se na cidade grande, desvendando os mistérios da vida, trabalhando em um açougue, servindo café em um botequim e ocupando a função de datilógrafa.

Num dos belos momentos do filme, vemos a persona- gem passeando tranqüilamente pela feirinha da Praça da República, deslocada, à margem do movimento local. Em várias cenas notam-se associações místicas entre a personagem e seu destino, propondo uma aura de mistério. Um dia, “conheceu os mistérios de alguém tão estranho, qual ela também”, E, com esse homem – Mojica? –, ela terá uma filha. Por meio da montagem – feita pela própria Nilcemar Leyart – aproximam-se imagens de Iemanjá – numa associação à sua chegada pelo mar – e da virgem de Fátima – sugerindo talvez alguma origem mística para filha.

As referências ao mar são constantes: estão nos créditos do filme, escritos na areia, no som de ondas, presente na banda sonora, e na bela cena final em que, como um retorno – ou espécie de agradecimento – da personagem, ela caminha pela praia acompanhada do marido e da filha, a qual também traz o mar no nome.

Alessandro Gamo