FIM

Ficção, 1986-2003, 35 mm, cor, 13 min, curta-metragem

 
 

Uma mãe auxilia o filho, um assassino descontrolado, a enterrar suas vítimas numa floresta. Uma das mulheres assassinadas, contudo, recusa-se a morrer e ressurge das trevas, causando pânico no rapaz. O acontecimento exige outra intervenção materna.

Convidado a dirigir uma cena de terror explícito no filme A hora do medo, de Francisco Cavalcanti, José Mojica Marins produziu o mais forte momento da fita. A consistência da cena permitiu que, destacada do longa, ela se tornasse um curta-metragem de vida própria e grande impacto.

No curta, após uma típica cartela de créditos com dizeres de Zé do Caixão, nos vemos sob os domínios de Mojica: uma jovem nua é arrastada por outra mulher numa floresta, entre sapos, grasnar de corvos, uivos e uma trilha sonora característica de filmes de terror. Em seguida, cria-se, por meio da montagem, um paralelismo entre a cena da floresta – na qual sabemos que a mãe enterra a amante do filho – e, uma tomada interna, na qual um homem seduz uma mulher. O contraste aumenta a tensão: enquanto a primeira mulher é enterrada, ainda viva, pedindo para não morrer, a segunda é exaltada como símbolo de beleza, de vida e de felicidade eterna, com direito a vários planos subjetivos e brindes com champanhe.

O caso alia a mãe controladora a um filho descontrolado: logo percebemos que o rapaz começa o serviço e a mãe o termina. A moça seduzida na casa é morta e levada para a floresta onde a outra havia sido enterrada. Mas nem tudo dá certo: a primeira jovem ressurge da terra. Como conseqüência, temos um dos mais impressionantes momentos do terror nacional: vemos um coração pulsando no corpo da garota – sinal da vida, que resiste. Nada que outra intervenção da mãe não resolva.

Um abraço final entre mãe e filho. Ao mostrá-los como que presos a um destino comum, Mojica sugere que o fim de todas as histórias da dupla tende ser o mesmo.

Alessando Gamo