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ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO

Ficção, 2006-07, 35 mm, cor/P&B, longa-metragem em finalização

 
 

Um envelhecido Zé do Caixão prossegue na busca da mulher que lhe dará o filho perfeito, garantindo a continuidade do seu sangue. Encarnação do demônio é a obstinação viva de Mojica desde 1966, quando escreveu sozinho a primeira versão do roteiro que fecharia a trilogia do personagem Zé do Caixão, depois de À meia-noite levarei sua alma e Esta noite encarnarei no teu cadáver.

O que torna mítico um projeto cinematográfico? Estamos falando aqui de José Mojica Marins – e estamos falando de um filme que há 40 anos espera para ver a luz dos projetores e para ser visto através dela.

Desde 1966, ano em que concebeu o filme, Mojica dirigiu mais de 20 longas-metragens, sem jamais conseguir concretizar seu grande sonho. Como ele mesmo proclamou na década de 70, no documentário Horror Palace Hotel (1978), de Jairo Ferreira, “sem a Encarnação do demônio, se eu morrer, deixo minha obra incompleta, minha missão interrompida”.

Nos seus 50 anos de cinema, Mojica testemunhou o ocaso do Cinema Novo, viu sur gir e acabar um Cinema Marginal que a ele tudo devia, viu o apogeu e a queda da pornochanchada e do cinema de sexo explícito, tudo de muito perto. Recentemente, acompanhou com espanto o surgimento de um outro cinema brasileiro, financiado por incentivos fiscais, um cinema tão amigo de gabinetes e de gerentes de marketing quanto divorciado do público – algo incompreensível para ele, que sempre dependeu do resultado das bilheterias.

No ano 2000, quando nos encontramos – Mojica, Dennison Ramalho e eu – visando retomar e atualizar o projeto deste filme, enxergamos nesse encontro de gerações uma oportunidade única, capaz de conjugar opostos, superar preconceitos há muito arraigados e, principalmente, conciliar nosso interesse pela linguagem com uma real possibilidade de inserção no mercado. Para tanto, o desafio era criar, no atual ambiente de nosso cinema, condições (financeiras, técnicas, artísticas) para o retorno de Mojica. Criar condições para que ele fizesse, com total liberdade e sem concessões, o que sempre buscou: sua fita mais radical, mais forte.

A via-crúcis do dinheiro, das fontes de financiamento, não tem o menor interesse. O fato é que Encarnação do demônio chega às telas no primeiro semestre de 2008. Zé do Caixão, envelhecido e em pleno coração da cidade de São Paulo, busca ainda a mulher que lhe dará o filho perfeito. Nesse dia, Mojica poderá finalmente sorrir o triunfo de sua inabalável vontade.

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Presto homenagem aqui aos produtores que sonharam em realizar este filme e, pelos mais diversos motivos, não puderam fazê-lo: George Michel Serkeis, Antônio Polo Galante, Oswaldo Massaini, Mário Lima, Ivan Novais e, principalmente, Augusto de Cervantes.

Paulo Sacramento