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José Mojica Marins nasceu em 1936, numa chácara aqui na Vila Mariana, em São Paulo. O enorme terreno pertencia à fábrica de cigarros Caruso — os Caruso eram primos de seu pai.
O futuro cineasta era filho de artistas circenses que resolveram, depois de muitas viagens, fixar-se nos fundos de uma sala de cinema, propriedade de familiares no bairro da Vila Anastácio. Mojica tinha três anos de idade quando seu pai tornou-se gerente desse cinema.
Em vez de ganhar a bicicleta que tanto queria na época, na primeira oportunidade optou por outro presente. “Pai, mudei de idéia. Quero uma câmera de filmar”.
partir daí, começou a se aventurar em seus primeiros filmes amadores, na década de 40. Rodava as cenas em um galinheiro desativado. Ele e seus amigos organizavam bailes para arrecadar dinheiro para seus projetos cinematográficos. Surgiram filmes como O juízo final (1949), Os lugares por onde passei (1949) e tantos outros, dos quais não restou quase nada. Apenas do filme Reino sangrento (1950) foram encontrados registros – em 16 mm. O filme será exibido na programação da mostra como único representante desse período.
A primeira produtora de Mojica chamava-se Cinematográfica Atlas, e a escola de atores do cineasta recebeu o mesmo nome. Mas todo mundo se referia a ela como “a escolinha do Mojica”. Mais tarde, na Apoio Cinematográfica, junto com Augusto de Cervantes, Mojica realizou seu primeiro longa-metragem em 35 mm, um faroeste chamado A sina do aventureiro (1957-58) – após a tentativa frustrada de rodar, entre 1955 e 1956, o filme Sentença de Deus.
José Mojica transitou por outros gêneros, mas encontrou no cinema de horror sua vocação. Certa noite, após um sonho, Mojica criou o personagem Zé do Caixão, o que marcaria os primórdios do filme de horror no Brasil. Ele mesmo encarnava o personagem, por falta de opção de atores e de dinheiro. Desde À meia-noite levarei sua alma (1963-64) e Esta noite encarnarei no teu cadáver (1965-66), Zé do Caixão tornou-se um dos personagens mais marcantes e míticos do cinema brasileiro.
Mojica ficou conhecido em todo o mundo por sua maneira simples de fazer filmes, pensando alternativas que barateavam custos, obrigando-se a criar, cena a cena, possibilidades criativas – algumas vezes falhas, mas outras definitivamente geniais.
Durante a ditadura militar (1964-1985), Mojica foi um dos cineastas mais perseguidos pela censura.
Além de passar em revista a obra deste cineasta incomparável, envolvido em mais de uma centena de filmes, a mostra José Mojica Marins – Retrospectiva da Obra apresenta ainda o filme inédito A praga, que Mojica começou a rodar em 1980 e foi finalizado este ano.
Comemoramos nesta retrospectiva os 50 anos de carreira de um grande cineasta brasileiro. Metro a metro, ponta a ponta, Mojica nos inspira a todos, por realizar sem medo nossos mais profundos desejos e temores.
Eugênio Puppo