Portal Brasileiro de Cinema ROBERTO RODRIGUES
ROBERTO RODRIGUES Tunico Amancio As figuras de Roberto Rodrigues eram lânguidas e vigorosas. As mulheres sensuais, os homens rudes e violentos, o clima mórbido, e a atmosfera tensa. Seu traço absolutamente preciso, sua composição moderna, utilizando o preto e o branco com admirável propriedade, quase sem meios-tons. Mas o que me chamou a atenção foi o tema dos desenhos, com os quais tive contato a partir do CordelUrbano, que Neila Tavares publicou e que vi no início da década de 70. Quando eu soube que ele morrera em 1929, estranhei que seus desenhos não lembrassem a propalada alegria dos anos 20 na já civilizada Rio de Janeiro. Pelo contrário, em vez de melindrosas e almofadinhas, seus desenhos eram cheios de violência, estupros, assassinatos, suicídios, pessoas sofridas, crianças famintas, velhos com olhar perdido, mulheres esperançosas ou saciadas de amor. E ópio, cocaína, morfina. E jazz e bares e cabarés. Então, me apaixonei pelo desenho de Roberto Rodrigues. Em 1985, com o projeto aprovado pela Embrafilme, fui pesquisar a obra de Roberto e graças a seu filho, o arquiteto Sérgio Rodrigues, tive acesso a alguns originais embora em estado precário de conservação. Completei a pesquisa na Biblioteca Nacional, vendo o jornal Crítica e a revista Paratodos; fotografei inclusive um exemplar da revista Jazz já em decomposição. Nas folhas da Crítica, o traço de Roberto carecia de sofisticação, na tentativa de aproximar o fato ilustrado do público leitor. Não raro seus desenhos ganhavam a legenda "reconstituição", como se o ilustrador tivesse estado presente àquela infinidade de crimes passionais, aberrações sexuais e baixarias afins que eram privilegiados no jornal de Mário Rodrigues, pai de Roberto. Em Paratodos, a crueza de sua temática adquiria outra elegância gráfica, ao ilustrar Cecília Meireles, Raimundo Magalhães Júnior, Henrique Pongetti, Augusto dos Anjos, Stella e Nelson Rodrigues.Também trabalhavam para a revista J. Carlos, Guevara e Figueiroa. Nelson disse que o irmão sempre lhe parecera um suicida — "um olhar, uma atmosfera, um halo de quem vai morrer cedo" —, e que Roberto desenhava a própria cara nos bêbados, loucos e enforcados de sua ilustração. Era ele quem morria, assassinado pelos outros, quem pendia de uma forca ou se deitava num caixão. E era ele quem contribuía com o universo sem misericórdia da intensa dramaturgia dos Rodrigues. Tunico Amancio PRODUTORA: Cena Tropical Comunicações APOIO: Embrafilme e Universidade Federal Fluminense FOTOGRAFIA E CÂMERA: Flávio Chaves ASSISTENTE: João Antonio Franco CENOGRAFIA, FIGURINOS E MAQUIAGEM: Rita Ivanissevich MONTAGEM: Roberto Machado Júnior MÚSICA ORIGINAL: Odemar Brígido ANIMAÇÃO: Ronaldo Câmara TABLE TOP: Pan Studio PESQUISA: Clélia Bessa e Paulo Luiz Martins LOCUÇÃO: Antonio Serra e Wilson Paraná |