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Adaptações para TV

por João Carlos Rodrigues

 
 
Nelson Rodrigues e Roberto Marinho

Nelson Rodrigues foi um dos primeiros intelectuais brasileiros, ao lado de Silveira Sampaio e Paulo Francis, a utilizar a televisão a seu favor. Através dela, foi um importante comentarista esportivo, e também um grande phraseur, dizendo coisas deliciosamente revoltantes como "Toda mulher gosta de apanhar" ou "Nem toda mulher gosta de apanhar. Só as normais". Escandalizava assim gregos e troianos. Poucos sabem que escreveu uma telenovela intelectual: chamava-se A morta sem espelho e foi levada ao ar no início dos anos 60, com direção de Fernando Torres e Sérgio Britto na extinta TV Rio, e música-tema de Baden Powell e Vinicius de Moraes. A telenovela teve problemas com a censura e foi proibida, antes que pudesse ser terminada — nada resta dessa experiência.

Mais recentemente, a TV Globo foi responsável por algumas das mais felizes adaptações da obra jornalística e folhetinesca de Nelson. Em 1995, nos trinta anos da emissora, realizouse a minissérie Engraçadinha, seus amores e seus pecados, em vinte capítulos, com direção de Denise Saraceni e supervisão de Carlos Manga. Sem modernizar o enredo, o roteiro de Leopoldo Serran usou com propriedade o diálogo interior dos personagens, em que Nelson comenta, e muitas vezes contradiz, o que eles fazem em cena. A intrincada teia que une os numerosos tipos, principalmente na segunda parte do livro, é conduzida com extrema habilidade até o final catártico e surpreendente. E as interpretações são excelentes, a começar por Maria Luisa Mendonça, no papel da angustiada prima Letícia.

Em 1996, Daniel Filho idealizou e co-dirigiu, com Denise Saraceni, as esquetes de oito minutos de A vida como ela é..., inspiradas na coluna homônima que Nelson manteve no jornal Ultima Hora, entre 1951 e 1961. O roteiro era de Euclides Marinho e a fotografia, em 35 milímetros, de Edgar Moura. Uma das boas idéias foi manter fixo o elenco, muito afiado com o estilo do autor: Tony Ramos, Cláudia Abreu, Maitê Proença, Antonio Calloni, Malu Mader, Isabela Garcia, entre outros. Embora a qualidade seja desigual, estão presentes as grandes obsessões do humor rodriguiano: a cunhada provocante, o corno de subúrbio, a esposa obsessiva, o velho tarado, a mãe dominadora. Entre os 39 episódios realizados, há uma história bem conhecida: A dama do lotação. Mas as melhores foram mesmo Delicado e Desprezada.