Portal Brasileiro de Cinema ASFALTO SELVAGEM
ASFALTO SELVAGEM J. B. Tanko J. B.Tanko transformou os tipos e situações rodriguianos em sua matéria-prima, quer nas chanchadas epigônicas dos 60, quer nas comédias e dramas dos 70. Nas adaptações, Tanko conseguiu unir a origem européia ao melodrama mexicano e dar uma resposta consistente às provocações do texto de Nelson Rodrigues. Asfalto selvagem é fiel ao folhetim. Já na abertura somos inseridos em uma narrativa cíclica, como convém ao mito, e levados a conhecer o passado remoto de Engraçadinha. O flashback indica o mundo rural como origem, e lembra a transposição clássica do desenraizamento da terra e posterior inserção urbano-industrial; o desejo é o motor das ações. Esse aspecto é particularmente feliz na seqüência da fusão de corpos, signo de atualidade diante do psicodelismo nascente. A narrativa vem para o presente — a morte —, e retorna a um flashback em que tudo será esclarecido. A estrutura, incomum para um filme brasileiro, não desnorteia o espectador, em grande parte por causa do trabalho de montagem de Rafael Justo (escolhido, em seguida, para montar Deus e o Diabo na Terra do Sol). Os cortes criam homologias sonorovisuais (palavra sexo X imagem da carne de açougue) e antíteses (Zózimo de terno na sarjeta X Engraçadinha de baby-doll na cama), costuras que privilegiam deslocamentos mecânicos e ópticos (zoom) da câmara e elipses extraordinárias que vão sufocando o drama. Não há pausas, interlúdios, idílios nem outros artifícios para privilegiar, por exemplo, a nudez. Tanko tem consciência de que a sociedade é mais uma ave de rapina do que voyeur. Insere uma advertência de que a obra (livro e filme) busca efeito moralizador, contra a decadência dos costumes, mas faz isso por cima do corpo insinuante de Vera Viana. Esse tom permeia a composição dos diálogos, a dicção, a música — o dado mais moderno e irônico da narrativa, em bela trilha de João Negrão —, e o uso da iluminação, recortando e reenquadrando corpos. Asfalto selvagem mostra-se ágil, dinâmico, moderno, bem narrado e sem nenhuma evidência de síndrome de naftalina. Ponto para Tanko. Hernani Heffner PRODUTORA: P. C. Herbert Richers e J. B. Tanko Filmes PRODUÇÃO: J. B. Tanko, Alexandre Horvat e Adalberto Vieira ROTEIRO: J. B. Tanko (baseado em romance homônimo de Nelson Rodrigues) FOTOGRAFIA: Tony Rabatoni MONTAGEM: Rafael Justo Valverde MÚSICA: João Negrão ELENCO: Vera Viana, Jece Valadão, Maria Helena Dias, Ambrósio Fregolente, Nestor Montemar, Milton Carneiro, Roberto Duval, Lícia Magno, Tina Gonçalves |