Portal Brasileiro de Cinema O CASAMENTO
O CASAMENTO Arnaldo Jabor No buliçoso ano de 1968, Nelson Rodrigues publica o romance O casamento. O tema parte de uma das subtramas de Bonitinha, mas ordinária: a crise desencadeada pelo anunciado enlace matrimonial de uma jovem da classe média alta. O assunto é a dissolução da família e do próprio mundo burguês, e diante do leitor desfilam personagens de arrepiar: a protagonista, que tem com o pai uma relação quase incestuosa; a secretária que ama o patrão que a despreza; um funcionário público casado com uma leprosa; o playboy filhinho de papai que faz pega de carro; o homossexual que se exibe diante do pai paralítico. A sociedade desmorona, mas a jovem Glorinha vai casar. Um moralismo acachapante desnuda os podres da humanidade, com a fúria de um patriarca ofendido. O livro foi proibido durante a ditadura, embora o autor, auto-intitulado "o reacionário", apoiasse os militares publicamente. Essa contradição de ser conservador na vida e demolidor na obra também sofreu Otávio de Faria, cujo livro O lodo das ruas (1942), com sua impiedosa radiografia de uma classe social, pode ser considerado um ancestral de O casamento. O filme de Jabor foi feito logo depois do sucesso de Toda nudez será castigada, que inaugurou o segundo ciclo de adaptações rodriguianas. Como em toda obra de Nelson, o texto é o paraíso dos atores inteligentes: aparentemente coloquial, mas na verdade muito estudado, o diálogo se faz aos solavancos de interrupções, suspiros, frases inacabadas, a um milímetro da comédia e do dramalhão. É difícil acertar. E aqui, sob o comando do diretor, brilham particularmente Paulo Porto, Camila Amado, Érico Vidal e Adriana Prieto. Esta, falecida num desastre antes da dublagem, que foi feita por Norma Blum. O casamento é um filme bem-resolvido. A miseen- scène frenética combina às mil maravilhas com a violência dos diálogos e a rapidez da ação. E, numa polêmica e bem-sucedida trilha sonora, o tango moderno de Piazzolla sublinha essa tragédia carioca, muito bem aceita pela crítica e pelo público. Aqui, como poucas vezes antes e depois, temos Nelson em pleno apogeu.
PRODUTORA: Ventania P. C., P. C. R. F. Farias PRODUÇÃO EXECUTIVA: Paulo Porto FOTOGRAFIA: Dib Lufti MONTAGEM: Rafael Justo Valverde ELENCO: Adriana Prieto, Paulo Porto, Camila Amado, Nelson Dantas, Mara Rúbia Carlos Kroeber, Érico Vidal, André Valli, Ambrósio Fregolente, Cidinha Milan, Abel Pêra |