Portal Brasileiro de Cinema  PERDOA-ME POR ME TRAÍRES

PERDOA-ME POR ME TRAÍRES

Braz Chediak
RIO DE JANEIRO, 1983, COR, 35 MM., 101 MIN.

 

Os fantasmas criados pelo medo da traição rondam os personagens do filme de Chediak. Glorinha, que vive com o tio Raul, vai com a amiga Nair para o bordel de madame Luba. Após relutar um pouco, a menina é "iniciada" na casa. Numa conversa, Nair diz a Glorinha que está grávida e que pretende fazer um aborto. Falam de um pacto de morte, suicídio e um beijo "sem maldade", que selaria o acordo.

 

Entramos, então, no universo obscuro que ronda Glorinha. Há uma trágédia familiar: Judith, mãe de Glorinha, se matara e Gilberto, o pai, ficara louco e morrera num manicômio. Num flashback, o tio Raul conta a Glorinha que os pais dela viviam bem, mas que Gilberto começa a ficar possuído de ciúme por Judith (Vera Fischer), achando que ninguém pode olhá-la sem desejá-la.

A loucura desponta como alternativa consciente para Gilberto ("Quero ser louco, em paz e só"), e ele pede para ser internado num manicômio, dizendo não acreditar em psicanálise, apenas em camisa-de-força. Quando retorna, aceitando o ciúme e permitindo o adultério, é tachado de louco e conclui que ninguém sabe amar e que a idealização do casamento cultiva sempre a esperança do amor impossível. As mentiras passam a se justificar para preservar a família.

No filme naturalista de Braz Chediak, produzido pelos filhos de Nelson Rodrigues, despontam, em alguns momentos, tentativas poéticas de valorização do olhar de Judith e de Glorinha. Outro momento de maior construção visual ocorre na morte de Judith, quando ela cai na frente de um espelho e vemos apenas a imagem do cunhado, que nutria por ela um desejo escondido. Há também momentos irônicos e grotescos: durante o aborto, o médico que se embriaga e ameaça bater na ajudante assovia a música "Brasil". A direção musical de Radamés e Roberto Gnattali e a canção interpretada por Gal Costa tentam reforçar emocionalmente as lembranças amorosas de Judith.

No final, prevalece no filme o esforço de flertar com uma ampla parcela do mercado, concentrando- se na exploração da beleza de Vera Fischer e de Lídia Brondi.

Alessandro Gamo

PRODUTORA: J. N. Filmes

PRODUÇÃO: Joffre Rodrigues e Nelson Rodrigues Filho

ROTEIRO: Gilson Pereira, Nelson Rodrigues Filho, Joffre Rodrigues e Braz Chediak (baseado em peça homônima de Nelson Rodrigues)

FOTOGRAFIA: Hélio Silva

MONTAGEM: Rafael Justo Valverde

MÚSICA: Radamés e Roberto Gnattali

ELENCO: Vera Fischer, Lídia Brondi, Rubens Corrêa, Nuno Leal Maia, Zaira Zambelli, João Dória, Angela Leal, Sadi Cabral