Portal Brasileiro de Cinema PERDOA-ME POR ME TRAÍRES
PERDOA-ME POR ME TRAÍRES Braz Chediak Os fantasmas criados pelo medo da traição rondam os personagens do filme de Chediak. Glorinha, que vive com o tio Raul, vai com a amiga Nair para o bordel de madame Luba. Após relutar um pouco, a menina é "iniciada" na casa. Numa conversa, Nair diz a Glorinha que está grávida e que pretende fazer um aborto. Falam de um pacto de morte, suicídio e um beijo "sem maldade", que selaria o acordo. Entramos, então, no universo obscuro que ronda Glorinha. Há uma trágédia familiar: Judith, mãe de Glorinha, se matara e Gilberto, o pai, ficara louco e morrera num manicômio. Num flashback, o tio Raul conta a Glorinha que os pais dela viviam bem, mas que Gilberto começa a ficar possuído de ciúme por Judith (Vera Fischer), achando que ninguém pode olhá-la sem desejá-la. A loucura desponta como alternativa consciente para Gilberto ("Quero ser louco, em paz e só"), e ele pede para ser internado num manicômio, dizendo não acreditar em psicanálise, apenas em camisa-de-força. Quando retorna, aceitando o ciúme e permitindo o adultério, é tachado de louco e conclui que ninguém sabe amar e que a idealização do casamento cultiva sempre a esperança do amor impossível. As mentiras passam a se justificar para preservar a família. No filme naturalista de Braz Chediak, produzido pelos filhos de Nelson Rodrigues, despontam, em alguns momentos, tentativas poéticas de valorização do olhar de Judith e de Glorinha. Outro momento de maior construção visual ocorre na morte de Judith, quando ela cai na frente de um espelho e vemos apenas a imagem do cunhado, que nutria por ela um desejo escondido. Há também momentos irônicos e grotescos: durante o aborto, o médico que se embriaga e ameaça bater na ajudante assovia a música "Brasil". A direção musical de Radamés e Roberto Gnattali e a canção interpretada por Gal Costa tentam reforçar emocionalmente as lembranças amorosas de Judith. No final, prevalece no filme o esforço de flertar com uma ampla parcela do mercado, concentrando- se na exploração da beleza de Vera Fischer e de Lídia Brondi. Alessandro Gamo PRODUTORA: J. N. Filmes PRODUÇÃO: Joffre Rodrigues e Nelson Rodrigues Filho ROTEIRO: Gilson Pereira, Nelson Rodrigues Filho, Joffre Rodrigues e Braz Chediak (baseado em peça homônima de Nelson Rodrigues) FOTOGRAFIA: Hélio Silva MONTAGEM: Rafael Justo Valverde MÚSICA: Radamés e Roberto Gnattali ELENCO: Vera Fischer, Lídia Brondi, Rubens Corrêa, Nuno Leal Maia, Zaira Zambelli, João Dória, Angela Leal, Sadi Cabral |