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Une histoire d’eau (Uma história de água)

França, 1958, p&b, 35 mm, 18 min



Saindo para a faculdade, uma jovem descobre que sua cidade, Villeneuve Saint-Georges, está inundada. Com um barco e uma bicicleta, ela consegue chegar até a estrada e pega uma carona com um rapaz, com quem flerta ao longo do caminho, até chegarem aos pés da Torre Eiffel.

Parceria única, o curta de Truffaut e Godard revela facetas inusitadas na passagem dos críticos ao papel de cineastas. Anuncia-se, em Une histoire d'eau, uma singular travessia. Em cena, uma jovem (Caroline Dim) que perambula por locais cercados de água por todos os lados. Ela está numa pequena cidade, nos arredores de Paris, que está inundada. Ilhada, ela se vê livre, à deriva, e se diverte com acrobacias. À beira da estrada, subitamente, conhece outro jovem (Jean-Claude Brialy). Entra em seu carro e ambos passam a olhar o mundo que os cerca, velozmente, quando a viagem se dispersa em travellings constantes, que convidam a outras morais.

A ênfase na água não é mero acaso, já que a água oscila entre uma fluidez inapreensível, mas sintomaticamente também encontra-se represada, quieta, como uma imagem estática. Não seria essa água a melhor evidência do encontro de Godard e Truffaut? A água tão presente na cinematografia de ambos é, no curta, o elemento que gera ritmo, fluxos e interrupções. Natural, volátil, a água recusaria uma forma literária, fixa, de narrativa a ser transposta ao cinema. Como se entre o verbo (de Truffaut) e a montagem (o souci de Godard), a própria escrita se desmembrasse em diversos estados distintos da matéria engendrando tessituras genuinamente audiovisuais. Uma escrita que negaria um roteiro teleológico. Anárquico, o trajeto do e ao filme torna-se mais importante que o seu destino, ainda que o casal alcance, ironicamente, a Paris dos cartões-postais. Quando “antes quer dizer depois”, quando os caminhos, cíclicos, se bifurcam nesse encontro ímpar, revelam-se os anseios de dois jovens cineastas que, ao abandonarem a máquina de escrever, inventam outras histórias do cinema. No entanto, doravante, eles as escreverão com a câmera, em cena, pelos gestos que tracejam entre a moviola, a película e a tela.

Pablo Gonçalo



Produção

Apoio

Correalização

Copatrocínio

Realização


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