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Charlotte et son Jules (Charlotte e seu namorado)

França, 1959, p&b, 35 mm, 20’



Num quarto de hotel em Paris, Jules recebe a visita da ex-namorada, Charlotte. Entre resignação e orgulho, ele desabafa sobre os motivos que julga responsáveis pelo fim da relação e espera que a moça volte para ele. Jules, porém, será surpreendido pelas atitudes de Charlotte.

Charlotte e seu namorado é imediatamente anterior a Acossado (1959), a estreia de Godard em longas. O ator deste, Jean-Paul Belmondo, já aparece no curta; a ação ambientada num quarto de hotel estabelece parâmetros que o diretor seguiria nas cenas internas de Acossado; diálogos rápidos e referências "cinefílicas" também se repetem em ambos. Mas o que este curta tem de mais estimulante é deixar perceber como o pequeno conflito do casal é o grande conflito entre uma arte que estava indo e outra que ganhava espaço.

Jules (Belmondo, com voz dublada por Godard) surge deitado, acendendo um cigarro. Charlotte (Anne Collette) chega de carro, sorvete nas mãos. Ao entrar no quarto, ela saúda o ex-namorado num movimento chaplinesco, para logo ser bombardeada pela “falastrice” de um resignado e autoindulgente Jules. O compasso do filme está no desequilíbrio entre os excessos dele e o jeito impetuoso dela, na constatação (não assumida) de que ele já é passado e na convicção de que ela está buscando o futuro, e na moral conservadora e machista dele e no despojamento libertário dela. Godard faz uma passagem entre o cinema clássico (em especial o norte-americano e suas infinitas comédias de casal) e as invenções modernas e transgressoras da Nouvelle Vague.

Charlotte é a “nova onda” que se avizinha e não aceita regras prévias, mesmo as tendo deglutido. Os tempos são outros. Jules é personagem de um cinema pelo qual Charlotte não se interessa mais. Cabe a ela romper a tradição construída na (e pela) relação com Jules, absorver o que ele tinha de melhor e encontrar outros caminhos e possibilidades.

Em 13 minutos, Godard põe fim a um ciclo, permitindo que venha Acossado, o filme que nos vai tirar o fôlego (tal como adianta o título original em francês, A bout de souffle). Tão simbólica quanto concretamente, Charlotte e seu namorado (dedicado, aliás, a Jean Cocteau) é o filme-rompimento que deixa Godard iniciar novas relações – com o cinema, com a arte, com a vida. Para algo começar, sempre outro algo precisa terminar.

Marcelo Miranda



Produção

Apoio

Correalização

Copatrocínio

Realização


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