França, 1982, cor, vídeo, 9 min
Em 1981, quando a esquerda chegou ao poder pela primeira vez com François Mitterrand, a televisão estatal francesa produziu uma série de curtas sobre o tema da mudança. Um dos filmes foi encomendado a Godard. Num tom zombeteiro e provocador, o diretor explica por que não honrou a encomenda.
De costas para a câmera, cabisbaixo e diante de uma tela branca – que remete ao filme não realizado e evoca a folha de papel em branco que angustia os escritores – Godard é interrogado por uma voz off feminina sobre as razões que o impedem de fazer o filme. Seu discurso ataca a televisão (velha obsessão) enquanto reflete sobre a imagem – outra preocupação sua.
No meio da reflexão, irrompe a voz over do “chefe de comunicação do novo governo”, que ofende e desqualifica o cineasta. O Concerto para violino de Beethoven surge e contrasta com essa voz como num embate entre o sublime e o grotesco. Ela se sobrepõe muitas vezes às falas de Godard, numa cacofonia, mas também enriquece o que ele afirma, como quando diz: “Toda a vida deste imbecil é um pobre vai e vem entre a imagem da vida e a vida das imagens. Muito cedo ele demonstrou que não há imagens, mas apenas cadeias de imagens”.
Tais afirmações reverberam no discurso do cineasta quando ele exprime suas dúvidas sobre a capacidade da imagem para figurar a mudança. Segundo ele, não é possível produzir uma imagem que ilustre a mudança, pois “não há imagens, mas algo entre as imagens”. A mudança seria invisível e não estaria nas imagens, mas no hiato entre elas. A imagem resiste à mudança, pois está submetida ao poder.
Na metade do filme, um homem amarrado numa cadeira é espancado. Embora não vejamos seu rosto, tendemos a identificá-lo a Godard pelo aspecto físico e pela posição corporal (vemo-lo também cabisbaixo e quase de costas). Esta imagem remete àquela do cineasta no início e a ela se superpõe, selando sua identificação com um prisioneiro torturado.
Profundamente arraigado em sua obra, o masoquismo masculino se vincula ao sofrimento relacionado à criação artística, à angústia diante da página em branco. A relação entre auto-humilhação e o fazer artístico conduz a um dos mais belos momentos do filme, perto do final, quando Godard afirma que a criação artística é como uma declaração de amor à bem-amada, seja “uma mulher, um homem, a revolução, Santa Teresa de Ávila ou Marx e Engels”. Como ele considera que a “televisão está ocupada pelo inimigo”, isto explica a recusa de uma encomenda que, no fundo, julga indigna.
Alexandre Agabiti Fernandez
Produção
Apoio
Correalização
Copatrocínio
Realização
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É expressamente proibida a utilização comercial ou não das imagens aqui disponibilizadas sem a autorização dos detentores de direito de imagem, sob as penalidades da lei. Essas imagens são provenientes do livro-catálogo "Godard inteiro ou o mundo em pedaços" e tem como detentoras s seguintes produtoras/ distribuidoras/ instituições: La Cinémathèque Francaise, Films de la Pléiade, Gaumont, Imovision, Latinstock, Marithé + Francois Girbaud, Magnum, Peripheria, Scala e Tamasa. A organização da mostra lamenta profundamente se, apesar de nossos esforços, porventura houver omissões à listagem anterior.
Comprometemo-nos a repara tais incidentes.
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