França, 1994, cor, vídeo, 2’
O filme examina detalhadamente uma fotografia feita em 1992 pelo fotojornalista Ron Haviv durante a guerra nos Balcãs. Em paralelo, constrói um discurso que diferencia cultura e arte, enfatizando a capacidade de a segunda questionar o que a primeira busca preservar.
Je vous salue, Sarajevo é um dos filmes mais curtos e mais potentes de Jean-Luc Godard. Nele estão exemplarmente encapsuladas práticas construtivas recorrentes em sua trajetória e a ideia de que a arte ocupa lugar central na vida comum. Por quase dois minutos são exibidos fragmentos de uma única fotografia, feita em 1992 pelo fotojornalista Ron Haviv quando cobria para a imprensa o conflito nos Balcãs.
Alternando entre planos menos ou mais fechados da imagem que investiga até mostrá-la por inteiro, o cineasta aos poucos apresenta uma cena que sintetiza a suspensão seletiva de humanidade que qualquer guerra engendra: três soldados armados e de pé se acercam de duas mulheres e de um homem deitados sobre uma calçada. Um dos soldados parece estar prestes a chutar a cabeça de uma das mulheres, talvez para ter a certeza de que já está morta.
Ao som de uma música de Arvo Pärt (Silouans’ Song), Godard articula, em over, um discurso que une textos seus e de outros, criando um quase-manifesto ético-estético no qual distingue os campos da cultura e da arte. Ele afirma que cultura pertence ao âmbito do que é norma, enquanto arte é parte daquilo que produz dissenso. E assim como é da natureza da regra suprimir a exceção, seria da natureza da cultura sufocar a arte. Embora essa distinção entre cultura e arte possa parecer extremada, o que está em jogo nela não é uma oposição cega entre uma e outra, mas uma dinâmica em que a arte desassossega e põe à prova o estabelecido pela cultura, alargando o que de fato conta nos acordos sociais vigentes. No final do filme, já sem música ou texto, outra imagem aparece antes do escurecimento da tela, retirada da peça televisa de Samuel Beckett chamada Ghost Trio: um homem sentado e com a cabeça baixa segura um objeto em estado de espera sem fim. Referência à obra do escritor irlandês que parece apontar, paradoxalmente, para a fragilização do poder emancipador da arte em um mundo regido pela violência melancólica do consenso.
Moacir dos Anjos
Produção
Apoio
Correalização
Copatrocínio
Realização
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