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De l’origine du XXIe siècle (Da origem do século XXI)

França/Suíça, 2000, cor, vídeo, 15’



Comissionado pelo Festival de Cannes no ano 2000 para comemorar o início do segundo século do cinema, De l’origine du XXIe siècle opta por associar, em edição vertiginosa, imagens de filmes ficcionais a outras que documentam atrocidades do século XX, adicionando áudio que combina textos distintos.

De l’origine du XXIe siècle prospecta o século que então se iniciava voltando-se para o que findava, como se naquele já se anunciassem as engrenagens futuras do mundo, atravessadas por continuada violência entre povos e indivíduos. Articulando imagens ficcionais e documentais produzidas ao longo do século XX, Godard replica prática construtiva comum a vários de seus filmes do período.

Não por acaso, muitas de suas sequências são de novo vistas na primeira parte do filme Notre musique, feito quatro anos mais tarde e interessado em questões semelhantes. Em sua quase totalidade, são imagens de opressão, desolamento, morte e humilhação, pontuadas por poucas em que se vislumbra alguma redenção ou alívio. Mesmo em uma dessas ocasiões, as frases ditas em simultâneo frustram qualquer esperança no porvir do mundo, associando a felicidade não a um bem-estar, mas a uma sensação de amargura. O olhar retrospectivo do cineasta define alguns marcos temporais que recuam e avançam ao longo do filme: 1990, 1975, 1960, 1945, 1930 e 1915. Essa datação coincide com a proposta pelo historiador inglês Eric Hobsbawm em seu livro Era dos extremos, no qual define o século XX como um século “breve”, vinculando seu início à Primeira Guerra Mundial e seu término ao desmanche do bloco comunista.

A mistura desconcertante entre sequências pinçadas da história do cinema e outras selecionadas de registros filmados de acontecimentos reforça a crença de Godard na capacidade de a ficção afirmar certezas e na indefinição de sentidos que ronda esforços documentais. Sem impor hierarquias fixas entre os dois campos, ele sugere que, seja qual for sua origem, imagens podem servir a incessantes disputas pelo direito de narrar o que se vive. Valendo-se da música do compositor alemão Hans Otte e de citações de artistas e pensadores de várias épocas, o cineasta esboça uma historiografia torta que fratura entendimentos assentados sobre os laços que unem fatos e gentes.

Moacir dos Anjos



Produção

Apoio

Correalização

Copatrocínio

Realização


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