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Dans le noir du temps (No breu do tempo)

Grã-Bretanha/França, 2002, cor, vídeo, 10’



Encomendado pela Exposição Nacional Suíça de 2002, este curta usa o procedimento da colagem – de cartelas, pinturas, trechos de filmes, músicas e textos em voz off – para abordar o fim de tudo, a morte de cada elemento que constitui a vida.

Realizado na virada do milênio, quando os espíritos se aguçam, este curta integra o longa coletivo Ten minutes older: the cello - mas se destaca na singularidade do universo godardiano: um filme-poema, construído com suspiros e interrupções, “epifanias” na leitura de Nicole Brenez. A virada talvez tenha sido pretexto para um exercício, digamos, romântico, quase sentimental de um diretor que se notabiliza pelo distanciamento crítico: os dez minutos da metragem, estipulados pelo produtor, são ordenados pela senha introdutória “os últimos minutos de...”. Memórias sentimentais, configuradas na premência do tempo, enunciam o que seriam os últimos sopros, as últimas centelhas, diante das entidades que nos governam: últimos minutos da juventude, da coragem, do pensamento, do imprescritível, do amor, do silêncio, da história, do medo, do eterno, do cinema. Por fim, a última visão.

Logo na introdução, poesia em forma de diálogo: “porque a noite é escura?”, pergunta uma jovem, banhada pela luz intermitente de uma lareira. “Talvez o universo tenha sido jovem como você”, responde o interlocutor, “e o céu todo brilhante”. E completa: “o mundo ficou mais velho; quando olho o céu entre as estrelas, só vejo o que desapareceu”. As estrelas são pontos de luz que remetem a uma fonte luminosa e brilhante: a razão. O tempo traz a obscuridade, que permeia as existências e transfigura os valores. Os breves e fulgurantes fragmentos escolhidos por Godard costuram a poética desse percurso: imagens de sua lavra, Viver a vida, Rei Lear, Le petit soldat e Made in USA; homenagens radiantes, O Evangelho segundo São Mateus e Ivan, o terrível; e registros anônimos de cenas de guerra e campos de concentração.

Os últimos minutos. Resta um sabor de infinitude, na premência do fim, um fim que nunca chega neste curta. A história é uma colagem infinita de imagens. A última visão: noite, dizem eles e elas, e uma rajada de vermelho corta o balé em câmara lenta do último Eisenstein.

João Lanari Bo



Produção

Apoio

Correalização

Copatrocínio

Realização


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