Áustria / Suíça, 2008, vídeo, p/b & cor, 1’
Vinheta da edição 2008 da Viennale, o curta combina trechos de O encouraçado Potemkin (1925), de Eiseinstein, e do documentário alemão Gente no domingo (1930) com imagens contemporâneas de guerra e uma composição de Schumann, como se tentasse definir, pelos meios do cinema e do vídeo, o que é uma catástrofe.
“Uma catástrofe é a primeira estrofe de um poema de amor.” Ao longo dos 63 segundos de Une catastrophe (2008), esse postulado aparece escandido em quatro cartelas. Essa sentença confere início e fim, ritmo e unidade à breve montagem. Presente também em outros filmes do cineasta (Passion, 1982, e Détective, 1985), a sentença parece materializar a articulação godardiana entre catástrofe e montagem, que remonta pelo menos à sua conversa, no episódio 5b de Six fois deux (1976), com o matemático René Thom, célebre autor da Teoria da Catástrofe.
Como em História(s) do cinema, Godard combina planos de filmes e da atualidade. Os primeiros que vemos, após o título, mostram a escadaria de Odessa em O encouraçado Potemkin. A dramaticidade criada por Eisenstein é reforçada pelo som de um jogo de tênis – o ruído da bola contra a raquete, gritos e suspiros dos jogadores. Os demais planos emprestados da história do cinema provêm de Gente no domingo (Siodmak e Ulmer, 1930): o beijo entre Wolf e Brigitte é reproduzido em câmera lenta, evidenciando a resistência inicial da garota aos avanços do amante. Entre essas cenas, o cineasta inclui imagens de guerra. Na banda sonora, acrescenta a letra de uma canção alemã do século 19, Dat du min Leevsten büst (“Que você é o meu preferido”), e o início de Cenas da infância (1838), de Schumann.
As rimas visuais e sonoras parecem apontar para o sentido primeiro da palavra “catástrofe”, do grego katastrophê, que indica um movimento ao mesmo tempo circular, em direção ao fim e para baixo. Uma reviravolta, uma revolução. No teatro grego, é a catástrofe que conduz a trama ao seu desfecho. À diferença do plano sequência pasoliniano, que marca a continuidade da vida, a montagem não só cria catástrofes como estabelece relações entre elas, impondo a “morte” que confere sentido à vida. Especulação excessiva para 63 segundos de vídeo? Como diz a canção alemã citada, ao ouvir alguém bater à porta do filho durante a noite, pai e mãe pensarão que é só o vento. O eu-lírico da canção acredita que não.
Lúcia Monteiro
Produção
Apoio
Correalização
Copatrocínio
Realização
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