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Artigos e críticas sobre Khouri

 

“Façanha de um jovem diretor de 21 anos”
F. T. Diário de S. Paulo, de 14/2/1954

Em matéria de página inteira, O gigante pedra, primeiro filme de Khouri, era visto como "um autêntico acontecimento no panorama do cinema nacional”. Apontava-se o heroísmo do diretor devido aos problemas da produção independente, iniciada em 1951, que teve sete diretores de fotografia e levou três anos para chegar ao cinema. O filme possuía qualidades de realização e avanço formal de certo modo “inéditas” no cinema brasileiro moderno. Já se apontava o que seria recorrente em Khouri: “Corre por todo o film [sic] um não sei quê de fatalista e amargo, porém, de sentido humano mais íntimo”.

 

“Rascunhos e exercícios”
Paulo Emilio Salles Gomes. Suplemento Literário de O Estado de S.Paulo, de 21/6/1958 (republicado em Crítica de Cinema no Suplemento Literário, de Paulo Emílio, Ed. Paz e Terra, 1982, p. 349-355).

Comparação entre Estranho encontro e Rio Zona Norte, de Nelson Pereira dos Santos. O filme de Khouri seria um “exercício brilhante” que empalideceu o “rascunho populista” de Nelson. Este teria feito uma “fita fracassada” por confiar no realismo da câmera. Khouri ainda tinha problemas: o crítico apontou fraquezas no roteiro e nos diálogos, em contraposição ao estilo tão forte que às vezes se desgarrava da intenção do diretor. Concluiu: “acredito que de rascunhos e exercícios realizados à margem da produção corrente sairá o cinema brasileiro, no qual confiamos”.

 

“Importância de Khouri” e “Compreender Khouri”
Gustavo Dahl. O Estado de S. Paulo, de 28/5/1960.

“O cinema brasileiro não existe, porém Walter Hugo Khouri representa atualmente a maior possibilidade de ele vir um dia a ser”. Khouri lançava Na garganta do diabo, e Dahl utilizou o conceito de “autor” para definir Khouri, que construía seus filmes acompanhando cada passo da realização, tornando-os um “prolongamento vital” de si próprio. Refutavam-se os já comuns ataques a Khouri: alienação e influências européias. Dahl também foi severo: “Khouri ainda não fez um filme”, pois faltava-lhe assumir sua condição de autor, sem medo de revelar-se. Apontou falhas em Na garganta do diabo (psicologismo encoberto pelo espetáculo do bom gosto e eficiência do diretor), mas disse que suas qualidades davam a confiança de que um dia Khouri “encontrará sua voz interior e nos revelará as belezas do seu universo”.

 

“Com Noite vazia, a definitiva maioridade do cinema brasileiro”
por Rubem Biáfora. O Estado de São Paulo, de 27/9/1964.

A censura da ditadura militar ameaçava mutilar Noite vazia, por isso o crítico escreveu que “para o cinema brasileiro esta talvez seja a semana mais importante de todos os seus seis decênios de existência e afirmação”. Os brasileiros aceitariam que um filme nacional tivesse a estatura e a liberdade dos maiores filmes estrangeiros? “Pela primeira vez em nossa Sétima Arte estamos diante de uma obra completa, de acabamento internacional, perfeitamente estruturada e expressiva”. Com Noite vazia, o cinema brasileiro pela primeira vez antecipava-se aos demais num acerto de forma e audácia. Khouri teria obtido não apenas sua obra-prima, como também o melhor filme brasileiro, equiparável aos grandes de qualquer outro centro produtor.

 

“Em Eros, Khouri atinge a perfeição”
Leon Cakoff. Folha de São Paulo, de 12/11/1981.

Eros, o deus do amor era a “festa maior para comemorar a maturidade de um cineasta como Khouri”. Filmado em “primeira pessoa”, com a câmera no lugar dos olhos do protagonista, possui o toque de perfeição em todos os seus elementos, inclusive técnicos. “Com um incrível jogo de habilidade, ele é machista e feminista ao mesmo tempo”. Khouri declarou seu amor à cidade de São Paulo, sem fazê-la perder a expressão de devoradora de almas. “É toda essa falta de complexos que culmina no ponto de maior criatividade e exuberância do cinema de Khouri”.

 

“Eu, acusador, me confesso”
Ignácio de Loyola Brandão. O Estado de S. Paulo, de 20/7/2001.

O autor louva o atual resgate de Khouri, depois da “crítica cerrada, da linha de frente burra que se fazia aos seus filmes, considerados vazios, inócuos, despidos do social”. Cita um texto próprio em que atacou os filmes e diz que foi “um daqueles críticos ‘comprometidos que malharam Khouri, ainda que secretamente adorasse filmes como Noite vazia, O corpo ardente, As amorosas, Eros”. O imediatismo político fazia com que se perdesse o olhar abrangente.
A política deu em nada, mas Khouri continua aí, com seus 25 filmes que, “a seu modo, refletiram o social”. Finaliza: “A revolução de Khouri foi se manter contra tudo e todos, acreditando que estava certo, seguro do que tinha a dizer, na forma como devia dizer. Um dos raros estetas do cinema neste Brasil”.