Conheci o Christensen em 1954. Mário Pagés, grande diretor de fotografia também argentino, recomendou-me para seu assistente. Recém-chegado ao Brasil, Christensen viera da Argentina para dirigir dois longas-metragens produzidos por Roberto Acácio, o mesmo produtor dos filmes de Watson Macedo. O ator Sady Cabral seria o primeiro assistente e o pediatra Darcy Evangelista o segundo. Fui aceito como terceiro assistente apesar de já ter vários filmes na bagagem desde 1950, na Atlântida, empresa de Luiz Severiano Ribeiro, que produzia os filmes de Oscarito e Grande Otelo. Nem Sady nem Darcy tinham qualquer experiência em cinema. Christensen logo descobriu isso. Era um domingo. A equipe se comprimia num pequeno escritório do Acácio na [Avenida] Graça Aranha quando a voz de Sady destacou-se no alarido. Ele falava com a mãe de Heloísa Helena sobre a filmagem de segunda-feira. Heloísa deveria se encontrar com a equipe na Praça 15, às 6 da manhã, para tomar uma lancha com destino a uma ilha na Baía de Guanabara, onde seria a filmagem. O bom assistente não deixa recado nem se tranquiliza enquanto não falar diretamente com o ator. Sady não sabia disso. Aproveitei o dia de descanso para ir ao noivado de um cunhado, num subúrbio do Rio. Na festa, de repente, ocorreu-me que Sady não falara diretamente com Heloísa. Pelo telefone, soube pela mãe dela que ele não ligara novamente e que a filha passava o fim de semana numa fazenda em Petrópolis, sem telefone. Não, não sabia onde era, mas o pai sabia. Ele estava na casa de Ary Barroso, jogando buraco. Angustiado, num trem da Central, fui para a cidade disposto a descobrir onde ficava a tal fazenda. Foi quando soube que Heloísa já havia sido avisada. Ela fora a uma padaria telefonar para a mãe para dizer que estava bem e recebera o recado. Alívio.
Roberto Farias