A REENCARNACAO DO SEXO
1981, SP. Cor. 85 min. Direção: Luiz Castillini
Em isolada casa de campo, pai enciumado descobre que a filha Patrícia mantém relações com o empregado Artur. Ele mata o rapaz a machadadas e o en-terra na floresta. Induzida pelo fantasma do amante, a jovem descobre a cova e corta a cabeça do cadáver, que guarda em um vaso de antúrios. Posterior mente, a família se desintegra, com as mortes de Patrícia, por desgosto, e da mãe, pelo excesso de bebida, e a internação do pai num sanatório. Dez anos depois a casa é alugada. Assim começa A reencarnação do sexo, interessante aproximação do cinema brasileiro a um tema recorrente na filmografia do horror: as histórias de fantasmas.
O enredo se desenvolve a partir da interferência do sobrenatural no cotidiano dos novos moradores e no desfecho trágico de suas vidas. Todos sentem na carne a influência dos fantasmas do casal – convertidos com exagero em entidades diabólicas –, que os levam ao sexo desenfreado e ao assassinato. Os espíritos de Artur e Patrícia (de forma semelhante aos do jardineiro Quint e da governanta Jessel de A volta do parafuso, de Henry James) buscam através da possessão um lampejo da corporalidade perdida. Mas parecem refletir a culpa pelos atos que levaram ao seu triste fim: a expiação pela entrega aos desejos, isto é, ao sexo proibido.
Esse caráter perverso e destrutivo que reveste as ousadas, e quase explícitas, sequências expressa a ambiguidade dessas produções que tratam o sexo de modo negativo, ao mesmo tempo em que se sustentam na sua exploração como chamariz mercadológico. Levando em conta a modéstia da produção, a fragilidade da trama e o caráter apelativo das cenas de sexo, o filme escrito e dirigido por Luiz Castellini, inspirado em conto do Decameron, consegue estabelecer relação estreita com o universo do horror, marcado no filme por assombrações e possessões. Para tanto, contribui a caracterização assustadora de Patrícia Scalvi e a fotografia de Cláudio Portioli, responsável pelo ambiente de fantasmagoria consistente, com seus claros-escuros.
A atmosfera é prejudicada por recursos equivocados, que causam tropeços narrativos e embaraços, como a voz em off de Artur incluída à revelia do diretor, os efeitos especiais canhestros – em especial a planta se mexendo – e as cenas de sexo longas demais, que resultam em quebras constantes na evolução do suspense.
Lúcio Reis