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O FIM DA PICADA
2008, SP. Cor/P&B. 80 min. Direção: Christian Saghaard

“O que está acima é como o que está abaixo.” Sabe-se lá o que isso quer dizer exatamente, mas deve ser verdade. É um dos bordões psicodélicos de O fim da picada, filme muito louco dirigido por Christian Saghaard. Tirem as crianças da sala.

Quando o pessoal do Cinema Novo resolveu amaldiçoar o udigrúdi, acabou atirando no próprio pé. Criou um mito. Uma lenda. Uma subcultura. Uma seita. E, óbvio, uma terrível maldição. A interdição atraiu legiões de fanáticos e psicóticos de diferentes gerações. E o primeiro cinema de Rogério Sganzerla, Julio Bressane e Ivan Cardoso continua sendo, principalmente para os mais desajustados, um grito contra “tudo que está aí”.

O outro lado terá que continuar formando professores, distribuindo prêmios e bolsas de estudo. O título deste filme de Saghaard aponta com ironia para onde o cinema brasileiro conseguiu chegar e revela um humor quase subliminar do diretor. Entre os vários subgrupos que, há décadas, se revezam na impossível tarefa de decifrar, recriar e atualizar o espólio marginal, existe uma facção de cineastas que misturou sua fixação por essa zona anteriormente proibida do cinema brasileiro com uma iconografia diabólica que fez muito sucesso entre a molecada nos anos 1980.

São os filhos metaleiros de Ivan Cardoso! Christian é próximo geracionalmente desse grupo, mas tem uma intenção autoral que o leva na direção de Bressane. Com a crise nas infinitas Terras, não sei como essas influências vão se recriar daqui para frente. Devem se diluir totalmente. Mas O fim da picada ainda é um verdadeiro relicário do gênero, com participações ilustres – o próprio Ivan, Carlos Reichenbach e José Mojica Marins – e uma sincera “antologia” de expedientes lisérgicos.

Sacrifícios, viagem no tempo, uma mulher-diabo que queima fumo, Mickey Mouse, túneis, viadutos, grafites, invasões, um moleque viajando de cola, uma sequência de fumerie, carne crua, o saci, hip-hop e uma burguesa histérica que perde a cabeça e se transforma em zumbi. Não há dúvidas, o inferno é mesmo aqui.

Remier Lion



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