Portal Brasileiro de Cinema AZYLLO MUITO LOUCO
AZYLLO MUITO LOUCO 1969, 35 mm, cor, 100 min No século XIX Simão Bacamarte vai para a cidadezinha litorânea de Serafim, onde interna grande parte dos moradores no hospício denominado Casa Grande, exercendo um poder aterrorizante sobre a população. O boticário Crispim, o fazendeiro Porfírio e o capitão da guarda revoltam-se contra os métodos do alienista, um juiz de paz é chamado para dirimir o caso e resolve pela soltura dos "loucos" e prisão dos nobres. Ao cabo de novas crises apenas Simão Bacamarte é internado como louco. Outra vez convocado por Nelson Pereira para um novo filme, O alienista, com grande parte da equipe de Fome de amor. Que barato! – a palavra estava entrando na moda – e ainda por cima em Parati, era demais. Foi demais. Dib Lufti, o rei da câmera na mão, diretor de fotografia; Bigode, assistente de direção; Luis Carlos Ripper, diretor de arte; Leila e Irene Stefânia, atrizes; meu pai Manfredo ator; Jorginho e Sandoval, na pesada. Era a patota de Fome, quase todos vindos do Ël Justiceiro. A essa turma se uniriam Nildo Parente e Isabel Ribeiro nos papéis principais; a combativa Ana Maria Magalhães e Nelson Dantas; o poeta, compositor, boêmio máximo de Parati José Kleber, que trouxe a reboque outra figuraça local o Gabriel Arcanjo. A equipe foi alojada em alguns dos sobrados que, na época, ainda não haviam sido vendidos à paulistada. O núcleo mais entrosado ficou no Valhacouto" nome de um bar que Zé Kleber havia aberto num sobradão de sua propriedade – bar de vida curta, pressões políticas e uns tiros disparados contra sua porta aconselharam seu fechamento, o pessoal ali era alegre demais para aqueles tempos sombrios. Nos tempos gordos do início do filme, as refeições eram no Bar do Abel, mais tarde, quando as coisas apertaram, passaram e ser feitas no Valhacouto. No Abel, à noite, depois do trabalho, se reunia a turma da birita, os do fumacê íamos ouvir música na casa de Teo, que conhecíamos de Ipanema, mas cuja família, de origem libanesa, era de Parati. Leila se dividia entre a televisão e o filme. Nossa amizade tinha se aprofundado e eu ia buscá-la em Cunha. Ela ocasionalmente e a qualquer hora gostava de beber, e então ia fundo. Juntava outras pessoas e saia dançando e zoando pelas ruas da cidade. Ela era pura alegria. O cenário principal era a Casa Verde, o hospício do alienista, no local, no alto de um morrote, de um dos diversos fortes que protegiam Parati, por onde antigamente escoava o ouro vindo das Minas Gerais. O conto de Machado servia de base para uma adaptação livre onde, por meio de alegorias, era feita uma reflexão sobre o momento político. A coisa toda precisava ser sutil, era a era Médici. Um exemplo: o personagem de Gabriel, que é militar, desbarata uma procissão/passeata. A cavalo, de sabre em punho, escorraça um bando de anjinhos (com as asas da procissão do Divino, tradição de Parati). São representação dos estudantes reprimidos ou da massa de manobra que justificará o endurecimento do regime? O importante não é afirmar, é botar para pensar e não dar argumentos para a censura. Leila aparece quase sempre sorridente, é uma Amélia que representa a exploração da mulher ou uma homenagem pessoal a sua jornada dupla, a sua incansável disposição, indo e vindo em penosas viagens. Os filmes do Pereira permitem sempre diversas leituras. São obras abertas, recriadas por cada espectador e a cada vez que são vistas. Haveria tanto a contar, desde o método de criação de Nelson até episódios engraçados como o narguilê – apelidado de jaco-jaco – borbulhando no andar de cima enquanto o fero delegado assuntava na sala. Há pessoas não mencionadas, como os assistentes de fotografia, o talentoso Rogério Noel e o malandrinho Rodolfo Bottino, que tanto contribuíram para a realização e o clima do filme. Mas chega, a saudade da empreitada e dos tantos que já se foram – Leila, Isabel, Kleber, Rogério, Manfredo – é excessiva. Não güento. Arduíno Colasanti Direção: Nelson Pereira dos Santos Roteiro: Nelson Pereira dos Santos a partir do conto O alienista de Machado de Assis Direção de fotografia: Dib Lutfi Montagem: Rafael Justo Valverde Música: Guilherme Magalhães Vaz Produção: Nelson Pereira dos Santos, Luiz Carlos Barreto e Roberto Farias Elenco: Nildo Parente, Isabel Ribeiro, Arduíno Colasanti, Irene Stefânia, Companhia produtora: Produções Cinematográficas Roberto Farias, Nelson Pereira dos Santos Produções Cinematográficas, Luiz Carlos Barreto Produções Cinematográficas e Difilm Companhia produtora: Cinedistri |