O filme busca através da sua trama uma crítica às influências negativas que então já se faziam perceber em relação à televisão.

É uma estória de vizinhos: no final dos anos 60 morávamos todos no mesmo prédio em Copacabana, onde nos conhecemos, o Zelito Viana, o Paulo Alberto, o Paulo Batata e eu. O Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Artur da Távola, era diretor do Jornal Metropolitano, foi eleito deputado estadual e era líder do PTB. Foi exilado no Chile de 64 a 68 e quando voltou ao Brasil foi trabalhar na Última Hora no Rio de Janeiro. Paulo Alberto era vizinho de Zelito Viana, um dos mais importantes produtores do Rio de Janeiro, sócio de Glauber, já tinham feito juntos o Terra em transe. Para dar uma força ao Paulo Alberto, ele topou produzir o filme. O filme é uma declaração de amor para a televisão, ao mesmo tempo em que a questiona. Contrapõe seu valor cultural com seu valor comercial e tem cenas com Jerry Adriane e Chacrinha.

Eu tinha 18 anos, era cineclubista, e o Paulo Alberto deixou um bilhete na minha porta me convidando para ser assistente, o que gerou uns problemas com meus pais, que falavam que ele era comunista. O Marcelo Cerqueira, que estivera no exílio com o Paulo Alberto, foi convidado para ser o ator. Ele trouxe a Leila Diniz para dar uma canja, o que hoje chamaríamos de participação especial. A Leila aparece em apenas uma cena, brincando com uma menina na Lagoa, mas era uma cena forte, pois ela já era famosa.

E para filmar precisávamos de um apartamento vazio e eu me lembrei de um vizinho maluco, diretor de teatro infantil, artista plástico, o Paulo Batata, que hoje é conhecido com Paulo Coelho. Ele cantou uma música para o Paulo Alberto, uma música que tinha a ver com TV, o Paulo Alberto gostou e a música acabou virando a música-tema do filme. A outra canja é que a Nara Leão topou a história e cantou a música para o filme.

Silvio Tendler