A herança

 
Antônio Ribeiro Candeias, seu Tonico.

O caso foi o seguinte: eu achei que tinha que convencer algum produtor e precisava de elementos para gente fazer um filme. Então eu tinha lembrado de um cara que gostava, que estava meio a fim de fazer um filme, que era o Augusto Sobrado. Me lembrei de Shakespeare, peguei um livro emprestado de um cara e disse que daria uma aventura.

Falei para o David Cardoso que eu tinha que fazer isso mais aquilo, e ele lembrou que na região onde mora o Agnaldo Rayol, Itapecerica da Serra, aquela região ainda tem como arquitetura aquilo que eu mais ou menos queria. Nesse momento eu ainda não sabia se iria fazer a fita ou não, já estava querendo devolver o dinheiro ganho através da Comissão Estadual de Cinema e não foi possível. O David me apresentou o Agnaldo e ele estava no auge. O Agnaldo deu o apoio dele e com isso eu pude fazer o filme. Quer dizer, tive casa, comida e tudo que eu queria em Itapecerica. Porque o Agnaldo tinha avisado a todo mundo que eu estava fazendo um filme e ele queria que dessem apoio ao filme. O Agnaldo me disse, “olha, eu queria fazer um papelzinho, pode ser pequeno e tal”. Então eu acabei arrumando um papel muito importante, eu pus ele no papel de Fortimbrás. Eu fiz assim, abandonei muitos daqueles que falam de Shakespeare: fiz cantador de viola, Ofélia negra e vai por aí afora, tudo dentro da cultura nossa. Eu achava que isso de mexer com o som, isso ia bem, né? Simplesmente eu queria vanguardiar ou vanguardar. Sabia que ninguém estava fazendo, que isso podia não dar muito certo, mas eu também sabia que a fita não ia dar muito certo, então eu experimentava, achava que ajudava na narrativa. Porque eu faço isso, porque eu acho que ajuda assim, dá mais um peso à fita, mais qualidade, arrisco fazer. Eu fiz assim, por exemplo: quando o David ria, às vezes tinha o relincho de cavalo. É porque por ali tem cavalo, e às vezes eu mostrava o cavalo. Mas tinha um cuidado, tinha toda uma relação. Depois eu acabei fazendo umas legendas pra ver se o exibidores passavam a fita. Ela foi exibida parece que no Rio Grande do Sul e não sei onde mais. Passou aqui em São Paulo em cinema de arte, no Cine Marachá, através do Álvaro de Moya.