Portal Brasileiro de Cinema Manelão, o caçador de orelhas
Manelão, o caçador de orelhas Pro Manelão eu lembrei de alguns matadores que eu conheci. Sempre se pensa que esses matadores são caras valentes, normalmente bons de tiro. Só que eles não encaram, matam atrás do toco, não tem essa de sair atrás de ninguém pra matar. Esse negócio de matar cara a cara e tal é negócio de bangue-bangue italiano e americano. Então eu deixei isso bem claro, que esses matadores, no caso o Manelão, precisam é matar o cara, não mostrar que é valente. Não tem nada de valentia não, porque ele precisa é ganhar o dele. Eu já conhecia o regionalismo do caipira mesmo porque andei muito, viajei muito por aí. Quando garoto ouvi muitas histórias no meio da peonada, meu pai gostava de contar história. Esse caipirismo do meio Centro-Oeste e do meio Sudeste é todo um pouco parecido. O que eu apelei aos livros foi pedir a essa literatura regionalista para completar o que eu já conhecia de regionalismo. Ler é um passado distante, pra fazer a fita eu não li nada, o que eu tinha que ler já estava lido. Quando a produção não tem meio de fazer nada, como em Aopção, ponho a máquina nas costas e não tem nem assistente, tenho que fazer tudo. No Manelão também não tinha dinheiro para pagar ninguém. Não levei assistente, não levei nada porque não adiantava levar, não tinha dinheiro para pagar. No Manelão, tem um momento que vem o carro de boi e o matador vem na mesa do carro e tem uma paisagem, umas árvores meio floridas. Para fazer aquilo, peguei uma objetiva de 180 ou 200mm de fotografia, bem ruim, baratíssima, e eu adaptei para a máquina de filmar pra fazer aquele tipo de fotografia, meio sem resolução. Porque eu não queria resolução e é aquela ligeira falta de resolução que ficava bonito. E ninguém saca, mas ninguém é obrigado a estar sacando. O que eu só quero é que ache bonito e fim, dizer por que eu fiz ou não é bobagem. Mas eu tenho que saber essas coisas. Eu usei um pouco de arquitetura e mais um monte de besteira. E é uma fita que ficou assim meio lenta, ligeiramente chata, não sei, mas ela tem um quê, que é a lentidão exatamente dessa campanha. Os representantes do Festival Internacional de Cineclubes, organizado na França, vieram aqui para levar o Manelão, que era o representante do Brasil, isso independente da Embrafilme. Depois eu fiquei sabendo que alguém com influência na Embra não mandou a fita e eu fiquei de mão na bunda. |