ZÉZERO

Ficção, 1974, 35 mm, P&B, 31 min

 

 

 

Camponês miserável tem a visão de uma “fada”, que o convence a ir para a cidade através de fotos publicitárias e promessas. Lá, só consegue emprego na construção civil, onde o pouco que ganha gasta com apostas na loteria esportiva.

Ninguém faz um zoom como Candeias. A cada filme do mestre do cinema marginal essa sensação se renova. O zoom foi o elemento de linguagem banalizado com o advento e a popularização das câmeras VHS. Surge como efeito especial de diversos vídeos caseiros. Atualmente, nada mais clichê do que um zoom (aproximar-se em movimento do objeto focado).

Como o cineasta paulista consegue ainda hoje nos surpreender e chamar a atenção, em seus filmes, com esse tão desgastado movimento de câmera?

Muito já se falou da subjetiva em A margem, mas o zoom tem sido uma de suas marcas registradas, seja na abertura de seu episódio O acordo, da Trilogia do terror, seja nas ambientações de O vigilante.

Zézero é um dos inúmeros exemplos do poder de Candeias em dar uma leitura particular para os movimentos de câmera. Tratando de um de seus temas prediletos, a migração, Candeias desfia a construção dos meios de comunicação de massa como agentes de sedução que fazem o pobre agricultor deixar o árduo trabalho no campo para conseguir um não menos pesado trabalho na cidade. Depois de amargar na cidade, o migrante consegue ganhar na loteria. Volta para o campo, mas a família que ele deixou lá, já está morta. O filme é permeado por diversos zooms, mas curiosamente a função narrativa chave dele, que é a de aproximação, não é utilizada, pois nunca nos aproximamos da trama, nem dos personagens, nem das palavras da revista que se fecha nesse movimento. Tudo é meio entrecortado, rápido, feroz. Uma não-aproximação.

Nesses momentos, entra o projeto artístico de Candeias. O seu cinema é o espaço do questionamento, não da identificação. O zoom é o movimento por excelência da aproximação entre espectador e filme, e, quando bem utilizado, é capaz de jogar o espectador para dentro da tela. Candeias faz o contrário, seu zoom nos joga para fora, em uma espécie de distanciamento crítico, para melhor observarmos as operações do que deseja narrar. Ninguém faz um zoom como Candeias.

Vitor Angelo

Direção, roteiro, fotografia e produção: Ozualdo R. Candeias.

Montagem: Luiz Elias.

Música: Vidal França.

Elenco: Milton Pereira, Isabel Antinópolis, Maria Gizelia, Palmira Balbina de Almeida, Maria das Dores de Oliveira, Maria Nina Ferraz, Carlos Biondi e Arnaldo Galvão.