Portal Brasileiro de Cinema UMA RUA CHAMADA TRIUMPHO 1969/70
UMA RUA CHAMADA TRIUMPHO 1969/70 Não-ficção, 1971, 35 mm, P&B, 11 min Através de fotografias de autoria de Ozualdo Candeias registra-se
a região da Boca do Lixo paulistana e as pessoas do meio cinematográfico
que por ali circulavam.
Uma rua chamada Triumpho preenche o desejo e a necessidade de qualquer comunidade de se recriar e reinventar esteticamente. Curta-metragem em duas versões , realizado inteiramente a partir de fotografias feitas pelo próprio Candeias, esta Rua é uma espécie de mini-almanaque ou quem-é-quem da “Roliúde” cabocla e precária, mais conhecida como Boca do Lixo – e o mais importante no filme é como se consegue reunir expressão e meio social, isto é, a má fama do local (a prostituição, a pobreza...) com outra má fama, a do cinema brasileiro. A Boca já havia sido personagem de O Bandido da Luz Vermelha e de Audácia! – este, assinado por Carlos Reichenbach e Antônio Lima, pouquíssimo visto pelas novas gerações, e injustamente, diga-se, a julgar pelo pouco que há para se ler a respeito. Mas a região, ao contrário do que os mais jovens possam pensar, não era exclusiva dos chamados cineastas marginais, e talvez quem melhor tenha filmado esse ambiente sem hierarquias foi Candeias (a lembrar ainda não apenas a segunda versão da Rua, como também Boca do Lixo cinema). Nesta Rua, como diria Roberto Santos, a falta de condições é transformada em elemento de criação: feito com pontas e sobras de filme – com as condições que haviam, isto é, na marra –, curto e simples em sua beleza, mas nem por isso menos importante ou menor na obra de Candeias; pelo contrário. O problema do som (que será extrapolado ao máximo por Candeias no cinco estrelas A herança) já está presente aqui, mas o homem não se faz de rogado e filma sem preconceitos. Poderíamos imaginar o belíssimo filme que ele teria realizado se tivesse o som direto: as conversas no bar Soberano (desses papos ainda sai filme), os depoimentos de Mojica, Person ou de Sganzerla, os ruídos da rua e tudo mais; pouco importa: para os cineastas de talento – e Candeias certamente está entre eles – a idéia é maior que a técnica, o transcedental vem antes do material. Ou seja, com muito pouco ou quase nada – a se notar a montagem de Luiz Elias, a narração quase em tom de conversa e a viola de Vidal França –, faz-se um pequeno & grande filme, na melhor tradição do cinema experimental tropical. Juliano Tosi Direção, roteiro e fotografia: Ozualdo R. Candeias. Montagem: Luiz Elias. Música: Vidal França. Produção: Jorge Alberto M. Teixeira, Antônio Roberto de Godoy e Cesário Felfiti. Cia. produtora: Cinegeral e Long Filmes Produções Cinematográficas. |