Portal Brasileiro de Cinema  FILMES DE IVAN CARDOSO

FILMES DE IVAN CARDOSO

O UNIVERSO DE MOJICA MARINS
Não-ficção, 1978, 16 mm, P&B/cor, 25 min, curta-metragem, Dirigido por Ivan Cardoso

À MEIA-NOITE COM GLAUBER
Não-ficção, 1997, 35 mm, cor, 16 min, curta-metragem, Dirigido por Ivan Cardoso

 
 

O universo de Mojica Marins e À meia-noite com Glauber são filmes de Ivan Cardoso. O primeiro é um média-metragem que promove um passeio pelo insólito mundo de José Mojica Marins, no qual as leis da racionalidade entram em pânico. O segundo é um curta, estruturado como uma colagem “construtivo-brutalista”, com material de arquivo de Ivan Cardososo, em diálogo com o barrocotexto de Haroldo de Campos.

A obra de Mojica é um achado de citação impor tantíssimo para aproximar os dois protagonistas (Glauber Rocha e Hélio Oiticica) de À meia-noite com Glauber. A justificativa de comparecerem juntos em um filme tem a ver com alguns encontros documentados em fotos e filme do anárquico acervo de documentarista de Ivan Cardoso. Essa é uma coleção à qual o cineasta tem recorrido ao longo dos últimos anos (como no posterior Hi-fi [1998], a par tir da obra de Augusto de Campos). A “estética da fome famélica de forma” – como assinala Haroldo de Campos no texto de narrativa em off – e a “estética da vontade de comer” encontram-se uma com a outra, nas próprias palavras do autor.

A leitura do texto de Haroldo, aliás, é essencial para que se entenda Glauberhélio/Heliglauber, segundo a semiótica Ivampiresca. Digamos que um processo geral, de base, orienta todo o filme: a colagem (dos procedimentos modernistas, aquele que mais tem resistido ao tempo) e a metalinguagem (como conseqüência fatal do primeiro). Sobre essa estrutura essencial sobrepõem-se, de modo impecável, as falas e imagens de Glauber e Hélio, que discutem o papel do artista e suas dificuldades no Brasil, a vida e a morte, a loucura, o delírio, tudo em uma espiral que se adensa à medida que vamos voltando a Mojica, o qual nos adverte: “Pensamos que vimos tudo, mas não vimos nada”.

O universo de Mojica Marins, filme mais antigo, toma um caminho até certo ponto mais convencional. Na linha de outros curtas de Ivan, como Dr. Dyonélio (1978), a câmera desse filme busca um encontro muito próximo com o retratado, que parece se esquivar sempre. A idéia de reproduzir um Universo, cosmos com significação própria, é levada a um exagero proposital. Se o caminho parece natural no início, com a aparição das fotos da infância, a mãe etc., logo a personagem toma conta da cena e comanda a narrativa, seja por intermédio do depoimento pessoal, seja pela atuação em um dos workshops na famosa sinagoga desativada, onde funcionava o estúdio de Mojica. Este é, talvez, o mais sincero documento de um personagem insincero. E é o filme que levou seu nome para muitos lugares no mundo.

Lúcio Agra