Portal Brasileiro de Cinema FILME DE GOFFREDO TELLES NETO
FILME DE GOFFREDO TELLES NETO FOGO-FÁTUO Documentário que homenageia José Mojica Marins, o filme traz registros de performances do cineasta e um monólogo no qual ele narra seu primeiro contato com o sobrenatural, quando testemunhou manifestações de fogo-fátuo em um cemitério. O físico nuclear e crítico de arte Mário Schenberg dá um depoimento elogioso ao cinema do diretor. Um Sílvio Tendler do futuro, interessado em reconstruir a trajetória de Mojica usando imagens de arquivo, encontrará rico material em Fogo-fátuo. Espécie de F for fake (Orson Welles, 1974) do cineasta brasileiro, o filme começa com um belo plano de cinema europeu e corta para um monólogo sensacional de Mojica contando o caso que dá título ao curta-metragem. Assistimos a um show de improvisação e habilidade narrativa que, para Mojica, já sabemos, é comum. Com os olhos vidrados, ele mistura lembranças de sua vida de adolescente na Vila Anastácio com o espectro do personagem Zé do Caixão. Como de costume, assusta. Ou melhor, impressiona. Em clima de missa negra espanhola, revela: “Descobrindo o mistério da luz, eu me tornei um cineasta!”. Aos berros, delira entre as próprias imagens projetadas, enquanto improvisa um julgamento sobre sua condição de cineasta-gênio precocemente esquecido. Fogo-fátuo foi realizado em 1980, quando o ciclo da Boca estava chegando ao fim. Outro curta-metragem da mesma época, Boca aberta (1985), dirigido por Rubens Xavier, um dos assistentes de Fogo-fátuo, registra de maneira mais direta o clima de depressão que pesava entre os cineastas da Boca – Candeias, Tony Vieira, Ody Fraga, Alex Prado. Em Fogo-fátuo, Mojica pergunta-se: “Que mal eu fiz? (…) Qual o meu erro? Ser autêntico? Criativo? Inteligente?”. Depois, decreta: “Sou um ser em extinção!”. A seqüência que mostra o curso de interpretação de Mojica é antológica. As imagens dos alunos se contorcendo em transe histérico merecem um estudo. É, sem dúvida, um documento. Bruce Lee, Sônia Braga, o Homem-Aranha e Mário Schenberg também “participam” deste curta, fotografado pelo cineasta Chico Botelho. A presença de Schenberg, notável físico amigo dos poetas concretos e de Mojica, referência máxima entre os beatniks paulistas (entre os quais destacam-se também Jorge Mautner e José Agrippino de Paula), traz serenidade à produção. Schenberg vai direto ao assunto e define Mojica como “uma das personalidades mais poderosas do cinema brasileiro – e, talvez, mesmo do cinema mundial – pela sua capacidade de criação de imagens”. Remier Lion |