Documentários de tributo ao cineasta. Baseados em depoimentos do próprio diretor, resgatam sua trajetória desde as experiências precoces até a homenagem recebida em Sundance, passando pelo surgimento de Zé do Caixão.

Realizados pelos autores de Maldito (Editora 34, 1998), a primeira biografia de José Mojica Marins, os documentários Maldito e Mojica na neve são, antes de tudo, registros significativos no processo de revalorização da imagem e da obra do diretor no Brasil – fruto de sua consagração como Coffin Joe nos Estados Unidos, no início dos anos 90. Os filmes se complementam no intuito de cumprir o propósito intervencionista já presente no livro Maldito: conscientizar o espectador da importância do cineasta, que teve sua obra tolhida pela censura durante a ditadura militar, e que foi marginalizado em seu próprio país. Para tanto, os realizadores buscam enaltecer a figura do criador de Zé do Caixão a partir da dicotomia entre o que seria a lucidez da crítica estrangeira – em especial, a norte-americana – e a cegueira da crítica brasileira – dos censores e, no caso do livro, dos dirigentes de órgãos estatais de fomento.

O documentário Maldito procura resgatar a trajetória de Mojica no cinema. Com a finalidade de explicar suas obras a partir de fundamentos biográficos, articula depoimentos e seqüências de filmes. Há, no en- tanto, uma preocupação constante: a de evidenciar os percalços que o diretor sempre enfrentou para filmar, e, nesse sentido, o filme reforça sua imagem de vítima das circunstâncias, presente também em Demônios e maravilhas. Assim, o reconhecimento no exterior torna-se uma espécie de redenção.

Maldito recebeu Menção Especial do Júri do Cinema Latino-Americano no Festival de Sundance. Essa homenagem a Coffin Joe foi enfocada no curta Mojica na neve. Apesar do título, o filme não se reduz ao relato das impressões do cineasta num país estrangeiro. Ao contrário, serve de pretexto para atestar a legitimidade da tese empreendida pelos realizadores.

Daniela Senador