HUMOR AMARGO

1973 . Sérgio Santeiro
Rio de Janeiro, 7 minutos, 35mm, cor

 
 

(Hugo Carvana observa Paulo José, sentado, chorando, e pergunta:)
— Por que é que você está chorando?
— (soluçando) Aumentaram o salário mínimo.
— E você está chorando?
— É que aumentaram o mínimo.

Disso se compõe o primeiro esquete de Humor amargo, filmete que o diretor caracteriza na cartela que aparece no filme como um “drama em 5 atos”. Aqui, o humor é o mau humor, e amargo é o sabor do copo diário com que somos brindados todos os dias quando abrimos os olhos e nos deparamos com o mundo.

Nonsense ou teatro do absurdo? Nenhum dos dois. Humor amargo é como cinco tiras de histórias em quadrinhos transformadas em cinema e emendadas para fins de compilação. Algumas são mais longas, algumas se resolvem numa só frase ou cantiga (“xô xô passarão”, segundo esquete). Simples e direto ao ponto: dois atores, uma parede (a da antiga sala da Cinemateca do MAM-RJ), quase nenhum objeto cenográfico e um recado muito claro.

Não é um cinema de grandes nuanças nem de significações diversas. O espectador, confrontado com essas “cinco peças fáceis”, experimenta um desespero bruto provocado por ocasiões anedóticas que evidenciam o drama de viver no Brasil em 1973 (ou em 2004). O sonho de um apartamento com vista para o mar resulta em dormir na areia, sem teto, com a brisa do oceano nas costas e o cacetete da polícia como despertador. Que graça há nisso?

Ruy Gardnier

Produção: Filmes da Matriz, SMF Produções Cinematográficas, Cinemateca do MAM-RJ

Direção e roteiro: Sérgio Santeiro

Fotografia: Roberto Maia

Montagem: (não creditada)

Elenco: Hugo Carvana, Paulo José