Ovelha negra é um relato nostálgico e íntimo sobre os excessos e desenganos de uma geração, à maneira de American Graffiti e de Juventude transviada. A graça do filme reside acima de tudo no comprometimento que seu autor mantém com o personagem principal, interpretado por Joel Barcelos. Barcelos vive um jovem fanfarrão prestes a se casar, que resolve fazer, na véspera da cerimônia, uma despedida de solteiro “do barulho”, indo até Petrópolis — mais especificamente até o luxuoso hotel Quitandinha, à época também um cassino — para ganhar meninas e beber quanto for possível. O filme mostra, paralelamente, a véspera de cada noivo: enquanto a moça, interpretada por Márcia Rodrigues, prepara-se candidamente para o grande dia, conversando com a amiga (numa cena que evoca Matou a família e foi ao cinema), o noivo bebe desde cedo, aproxima-se de uma menina de São Paulo e, apesar da recusa inicial, consegue fazê-la cheirar lança-perfume e aproveita-se dela em pleno Palácio de Cristal, ponto turístico da região. À noite, já muito embriagado, envolve-se com a crooner do cassino e com seu empresário escroque, que tenta aproveitar-se da situação para roubar o noivo. Aquilo que era para ser a véspera de um grande dia se revela como o dia D das indecisões juvenis, da constatação da pouca maturidade, da incapacidade de tomar decisões definitivas. Eminentemente narrativo e referencial (Bressane, Godard), Ovelha negra aproxima-se do Cinema Marginal apenas pelo olhar desesperançoso em direção ao futuro.

Ruy Gardnier