Portal Brasileiro de Cinema ORGIA, OU O HOMEM QUE DEU CRIA
ORGIA, OU O HOMEM QUE DEU CRIA 1970 . João Silvério Trevisan Orgia é puro carnaval tropicalista. Não tem começo, meio ou fim. Vemos um grupo, que vai se juntando ao acaso, com a intenção comum de achar o lugar onde se encontra o Brasil. “O país está na cidade?” — ouve-se alguém perguntar. O nonsense da narrativa, os personagens alegóricos, o longo trajeto que acaba por levá-los a um cemitério, tudo se fixa na inversão carnavalesca de tipos conhecidos do cinema brasileiro: o camponês mata o pai enlaçando-o como um animal, o caminhoneiro se livra de um pervertido sexual e cai no mundo, a baiana é um travesti mulato que declama trechos de Oswald de Andrade, o pai-de-santo anda de cadeira de rodas segurando a taça da Copa de 70, o intelectual fala uma língua incompreensível e se enforca, o padre e a freira rezam a primeira missa do Brasil, o cangaceiro está grávido e dá à luz em meio às tumbas de um cemitério, os índios cometem antropofagia. Sob a câmera frenética de Carlos Reichenbach, essas figuras desfilam por um mundo onde o desespero é folia, é experiência lisérgica e homoerótica, com direito a marchinhas típicas povoadas pelos urros, gemidos e murmúrios dos corpos que se arrastam pela terra em busca de transformação. Hoje, era do realismo fake da televisão, Orgia causa impacto ao trabalhar com um tipo de representação alegórica e gutural, conseguindo dar conta de traduzir o Brasil. Guiomar Ramos Cia. produtora: Indústria Nacional de Filmes (INF) Produção, direção e roteiro: João Silvério Trevisan Fotografia: Carlos Reichenbach Montagem: João Batista de Andrade Cenografia: Walcir Carrasco Música: Ibanez de Carvalho Elenco: Pedro Paulo Rangel, Ozualdo R. Candeias, Janira Santiago, Fernando Benini, Jean-Claude Bernardet, Sérgio Couto, Marcelino Buru, José Fernandez, Neusa Mollon, Marisa Leone, Jairo Ferreira, Cláudio Mamberti, Sebastião Millaré, Antonio Vasconcelos, Zenaide Rios, Mário Alves, José Gaspar |