O CANDINHO

1976 . Ozualdo R. Candeias
Mato Grosso, 33 minutos, 35mm, p&b

 
 

O Candinho, junto com Zézero, é o mais conhecido dos médias-metragens de Candeias, que parece um cultor sintomático desse formato pouco freqüente e nada comercial. Se o longa e o curta têm seus festivais, o média de ficção permanece pouco divulgado, mesmo quando possui qualidades evidentes, como este.

Visto hoje, descobrimos ser uma espécie de elo temático entre o ruralismo de A herança e Meu nome é Tonho, e a crítica da cidade grande de A margem e Aopção.

Estilisticamente, também está tudo na tela: a ausência de diálogos, os enquadramentos inusitados, o uso da lente zoom e de fotos fixas, os atores amadores, a poesia retirada da feiúra e da pobreza de personagens-escombros, o tempo meio arrastado e subitamente frenético.

Candinho, semi-débil mental (lembra o doidinho de A margem), é expulso da fazenda onde mora e vai para a cidade grande, procurando Jesus Cristo. Até certo momento a narrativa é linear e realista, ponteada por uma canção caipira. Mas, como poeta das imagens surpreendentes, Candeias subitamente abandona o protagonista, para seguir por momentos uma cigana prostituta (a situação feminina é o tema mais freqüente da sua filmografia), e mais adiante embarca direto no surrealismo, com a mulher que alimenta um bebê de plástico, ou no encontro final do personagem-título com um Jesus que toma cafezinho com os latifundiários e entrega seu adorador à sanha dos capangas.

Possivelmente, este é o filme mais diretamente político do diretor. Candinho conhece, lá pelas tantas, uma mulher com roupas andinas (poncho etc.). Desiludidos, os dois vão renegar o Messias – e o filme começa e termina com o plano de uma metralhadora pendurada numa cruz, numa referência direta à teologia da libertação.

João Carlos Rodrigues

Direção, roteiro, fotografia, montagem e produção: Ozualdo R. Candeias

Música: Ozualdo R. Candeias e Belmiro

Elenco: Eduardo Llorente, Shirley Grechi, Ivani Ross, Antônio Gonçalves Cury, Alfredo Almeida, José da Conceição, Maria de Jesus, Ubaldo Candeias, Maria Silva, José Lopes