Portal Brasileiro de Cinema MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA
MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA 1969 . Júlio Bressane Matou a família e foi ao cinema permanece uma obra essencial do cinema moderno brasileiro. Com maestria incomum, o diretor consegue fazer o filme gravitar, o tempo todo e perigosamente, entre o burlesco e o dramático, o clichê e o sublime, a vida social e o olhar lançado à intimidade dos personagens — que, no entanto, jamais são psicologizados. Os planos, melancólicos e claustrofóbicos, em extraordinário preto-e-branco, reelaboram mais o cinema mudo (sobretudo brasileiro) do que refletem as referências obrigatórias das nouvelles vagues dos anos 60. A montagem dispersa as linhas narrativas ao longo do filme, “alienando” programaticamente as partes do conjunto, cujo diagnóstico geral é o trauma da ineficácia transformadora da arte (a matança da família precede a ida ao cinema; o disco estragado devolve a realidade ao espectador etc.). A nota política a respeito do regime de terror no Brasil e o anseio muito sixties de desorganização da moral cotidiana, de destruição da família e de desrepressão do afeto mantêm seu impacto e sua emoção. Não tanto pelo registro histórico ou pela clarividência sociológica, mas pelo visionarismo cinematográfico do diretor, que foi capaz de transformar um argumento de base naturalista e melodramática numa das mais belas tragédias brasileiras. Alcino Leite Neto Cia. produtora: Júlio Bressane Produções Cinematográficas Produção, direção e roteiro: Júlio Bressane Fotografia: Thiago Veloso Montagem: Geraldo Veloso Elenco: Márcia Rodrigues, Renata Sorrah, Antero de Oliveira, Vanda Lacerda, Paulo Padilha, Rodolfo Arena, Maria Rodrigues |