Opus incertum

Sylvio Lanna

O fotógrafo - indicado pelo Veloso, autor de um filme apresentado no JB-Mesbla do ano passado, 1996 - Andrea Tonacci, acaba de chegar de São Paulo. O jantar da Ivone, na República da avenida Afrânio de Melo Franco, 120/402 - Leblon/RJ, vai ser servido. Mal dá tempo para as apresentações. Tenho que sair. Como combinado há 3 meses, agora que está tudo pronto é hora de ir à casa do Mário Carneiro buscar emprestado o equipamento 16mm que me aguarda. Filmagem amanhã. Conseguiu-se o porco lá pros lados da Barra. Barra mais que pesada. Conseguiu-se o porco para o sacrifício. De norte a sul deste país, homens, mulheres, jovens principalmente, cabeças conscientes, corações românticos começam a rolar. É a castração, a impotência.

E no entanto (entretanto!), a existência era pura juventude, esperança constituída do melhor quilate de amor e paz. De paz e amor. Dos morros, descíamos a maconha num ritual sagrado para aplicar a cidade careta, enquanto das universidades chegavam os lisérgicos para definitivamente revolucionarmos o mundo. O sonho mal havia começado.

Na verdade o mundo, a fria guerra, o país, a dura dita, iam sendo esfacelados a golpes de baioneta e torturas. A erva daninha do individualismo grassa nas rachaduras provocadas entre nós. Depois o sonho acabou.

De repente, tão mais quanto em tempo presente em tendo agora o ágora, cada vez mais na arte somente o horizonte se alarga. Seguir em frente é então a força mesma, a crença em si. Correr contra o tempo perdido, aproximar o futuro do presente, num presente de cor e harmonia.